Grupecj- Programa de Pós-Graduação em Comunicação- PPGC. UFPB

Grupo de Pesquisa sobre o Cotidiano e o Jornalismo- UFPB-Demid- Criado em março de 2002 Orientação: prof. dr. Wellington Pereira.

quinta-feira, julho 22, 2010

Leia artigo do professor Massimo Di Felice- convidado da Primeira CESQ

Mídias nativas: de conceito a campo de possibilidade



Por Massimo de Felice


Em uma obra histórica de 1962, Umberto Eco define o conceito de “obra aperta” como uma forma estética que propõe uma problemática nova e como “uma categoria mais restrita de obras que, para suas capacidades de assumir diversas e imprevistas estruturas fisicamente inacabadas, podemos definir como obras em movimento...(...) – obras nas quais o receptor colabora efetivamente a uma criação do objeto estético” . A forma estética proposta por tais obras não é definida, fechada num conceito objetivo de belo ou de simetria, mas pertence ao âmbito das possibilidades que, em lugar de fechar a experiência e o conhecimento numa forma definida, o abre a pluralidades contraditórias de sentidos, práticas e significados. O conceito Mídias Nativas, pode ser definido, a partir deste ponto de vista, como um conceito aberto, isto é, um campo de possibilidade, um conceito em movimento que, com o tempo e as discussões, passa a assumir formas diversas. Desde o começo, mídias nativas foi pensado como um evento-laboratório no qual os conteúdos propostos pelas produções midiáticas dos participantes deveriam propor e elaborar significados.
Na primeira edição pensamos o mídias nativas como a apresentação das produções midiáticas e das narrativas eletrônicas indígenas criadas pelos povos nativos e pelas diversas etnias indígenas do Brasil. Na segunda edição modificamos tal conceito e passamos a pensar o evento como as novas formas tecnológicas do social elaboradas pelos jovens da periferias, pelos bloggers, pelos rappers, pelos motoboys, pelos moradores de ruas e por vários exponentes de etnias indígenas que, através das redes digitais, passaram a produzir conteúdo e a disponizá-lo na rede, destruindo assim a velha forma da esfera pública baseada em agenda-setting, líderes de opinião, público alvo etc.
No decorrer do evento as reflexões e os debates confluíram para definir como “nativa” a mídia e não os sujeitos. Trata-se de uma deslocação conceitual importante que, pondo ênfase na crise do antropocentrismo, define as sociabilidades e as culturas contemporâneas como realidades que nascem nas redes e nos fluxos informativos digitais e que, em seguida, tomam formas e espaços em localidades e topografias conectadas.
Abrem-se assim as possibilidades de pensar um novo conceito de virtualidade como também um outro conceito de social. Tornam-se, em tal perspectiva, inadequados um conjunto de conceitos (o de urbano, o de ator social) e um conjunto de dualidades que contrapõem o centro às periferias, a cultura erudita à cultura popular, a técnica ao homem, a mídia ao intelecto.
O conceito (leia-se campo de possibilidade) mídias nativas, continua abrindo-se a novas interpretações...
Mídias Nativas - mais do que um conjunto de definições e de conceitos é também uma prática e uma forma de habitar na qual construimos conteúdos e nos apropriamos do mundo através das tecnologias digitais, fazendo da nossa essência uma tecnologia connectiva, que cria aquilo que D. De Kerckhove define como tecno-psicologias. Mídias nativas é, portanto, além de um conceito em movimento, um campo de possibilidade, um ecossistema no interior do qual habitam todos aqueles que criam idéias, pensamentos, culturas, tempo livre, prazer, arte, conteúdos na rede.